A ausência de projetos conseqüentes e coerentes na política brasileira faz com que velhas teses ressurjam como se saíssem do ventre revolucionário da pós-moderníssima inteligência da esquerda. “A aliança entre PT e PSDB, fora dos marcos da radicalidade paulista, é a alternativa à governabilidade de um projeto de desenvolvimento soberano”, apontam alguns petistas ante a angustiante disputa política que Brasília vivencia. Por Jô Moraes* Deputada Federal PC do B/MG
A tal união dos contrários na esfera político-partidária, como solução aos dolorosos conflitos que um país vive para encontrar o seu caminho de desenvolvimento e paz não é novidade. (A não ser em períodos pós-ditatoriais ou naqueles velhos tempos de UDN versus PSD de saudosa memória de coerência e convicções).
Quem já não leu artigos, teses, propostas que procuravam aproximar os social-democratas petistas aos social-democratas tucanos, nos inumeráveis e profícuos congressos partidários ou estudos acadêmicos?
A novidade é que agora é Minas Gerais, um estado de tradição nacionalista, a ousadia agora é mineira, a coragem “transgressora” é mineira! O governador do PSDB, juntamente com o prefeito do PT, estão propondo um nome, ungido pelos dois, para continuar o projeto popular encabeçado pelo PT e outras forças populares e democráticas, ao qual o PSDB fez oposição durante 15 anos! (Não subestimem a inteligência do governador de Minas, o amigo que foi indicado para ser ungido prefeito foi orientado a filiar-se no PSB, partido da base de sustentação do Presidente Lula.
(Os eleitores que nos perdoem se não entendem, mas a confusão é universal!). O argumento central que o prefeito e o governador apresentam é que “o bom entendimento entre dois administradores públicos — prefeito e governador — assegurou os avanços que a capital mineira conseguiu nos últimos anos”. E quem estiver contra esse entendimento está contra a cidade.
Alguém pode explicar por que Belo Horizonte não teve esses investimentos, mesmo quando o prefeito da capital era do mesmo partido do presidente da República — diga-se PSDB? Um era brigado com o outro, por acaso?
É evidente que “bom entendimento entre instâncias administrativas” já está garantido na constituição e qualquer coisa em contrário é neurônio a menos. O problema central é que não há investimentos nem crescimento nos municípios se não houver um projeto nacional que tenha como objetivo central o desenvolvimento soberano com distribuição de renda. E esta não é a proposta do PSDB. O PSDB, independente da vontade de alguns políticos a ele filiados, representa o ideário do sistema financeiro e do grande capital, especialmente do que se situa em São Paulo.
O Brasil e Minas precisam de investimentos produtivos, de produção com valor agregado e de valorização do trabalho. Sob hegemonia do sistema financeiro e do grande capital, especialmente o que se concentrou em São Paulo, Minas não terá vez, assim como o resto do Brasil.
O “monólogo programático” do PT X PSDB exclui o país, a democracia, os que produzem e os que trabalham. E lembremos aqui o aprendizado que a experiência socialista indica: “as máquinas administrativas não devem substituir as forças políticas e sociais na dinâmica política”. Leia-se: o prefeito e o governador, por mais legítimas que sejam suas lideranças, não podem substituir os partidos e as forças sociais nos processos democráticos das escolhas políticas e representativas.
* Jô Moraes é deputada federal e presidente estadual do PCdoB-MG
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